"A milícia nada mais é do que um conjunto de
policiais buscando expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os
criminosos”
(Discurso de Flávio
Bolsonaro, na ALERJ, em 2006)
Com esta frase, é muito difícil não suspeitar da
ligação do Ex-deputado Flávio Bolsonaro. Ainda mais quando o laranjal do
presidente deixa muitas pontas soltas e que ao juntá-las, descobrimos coisas
piores do que poderíamos imaginar.
Caso
vocês não recordam, a vereadora do Psol, Marielle Franco, fora assassinada
junto com Anderson Gome, no dia 14 de Março de 2018, supostamente por
milicianos que atualmente estão sendo investigados. O grupo que se chama Escritório
do Crime, é um dos mais poderosos do Rio de Janeiro. Nessas pontas soltas
encontramos duas mulheres chamadas Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça
da Costa da Nóbrega, na quais ambas são respectivamente, mãe e mulher do
capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, vulgo Gordinho, tido pelo Ministério
Público do Rio como uma das lideranças do Escritório do Crime. Essas duas foram
lotadas no gabinete do então deputado Flávio na Assembleia Legislativa do Rio,
mas o mesmo diz não ter sido responsável pelas nomeações, só que Danielle
Mendonça trabalhou mais de dez anos no seu gabinete. Já Raimunda Magalhães é
sócia de dois restaurantes no bairro do Rio Comprido, zona norte da cidade e em
frente aos restaurantes se encontra a agencia bancária onde concentra grande
parte dos depósitos nas contas de Queiroz e a suspeita ‘de que os restaurantes
poderiam ter sido usados num esquema de lavagem de dinheiro desta quadrilha.
Nóbrega já foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do
Rio (ALERJ) sendo agraciado com a Medalha Tiradentes, maior condecoração da
casa. Quando recebeu a homenagem, já estava condenado por ter assassinado um
guardador de carro.
Flávio
publicou uma nota pública culpando Fabrício Queiroz pelas nomeações das duas
familiares diretas de Nóbrega. De fato, parece que o elo de Flávio com Nóbrega
era Queiroz. Afinal, ele justificou as nomeações para ajudar um amigo em
dificuldades financeiras. Queiroz é amigo de Nóbrega. Ele possui negócios na
Comunidade de Rio das Pedras, ligados ao transporte alternativo. A milícia que
Nóbrega atuava controla essa comunidade há vários anos. Outro fato é que
Queiroz é um amigo antigo do atual Presidente. A filha de Queiroz foi
funcionária do gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília. Queiroz depositou 40
mil reais na conta da atual primeira dama, fato que Bolsonaro justificou como
sendo um pagamento de um empréstimo pessoal que tinha feito a Queiroz.
Queiroz
é citado no relatório do Coaf após ter sido identificada uma movimentação atípica
no valor de 1,2 milhão de reais em sua conta entre 2016 e 2017, valor
incompatível com seus vencimentos de assessor parlamentar segundo o órgão. De
acordo com ele, o valor seria fruto de operações de compra e venda de carros
usados. Depois que o caso veio à tona, o ex-motorista de Flávio desapareceu.
Segundo o colunista do Globo, Lauro Jardim, ele ficou abrigado por duas semanas
em uma casa na comunidade Rio das Pedras, onde a milícia alvo da Operação
Intocáveis agia.
Dentre
essas pontas soltas, acabamos encontrando mais um nome: Valdenice de Oliveira
Meliga, conhecida como Val, que possuía uma procuração de Flávio Bolsonaro para
assinar cheques referentes a pagamentos de sua campanha eleitoral para o
Senado. Interessante é perceber que Val é irmã de dois milicianos, Alan e Alex
Rodrigues de Oliveira, presos nas operações “Quarto Elemento” do Ministério
Público e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Mais pontas soltas e mais milícia envolvida com o nome do filho do atual
Presidente.
Segundo
a investigação, Val é apontada com um dos elos de ligação entre Flávio e as
milícias, pois ela é dona de uma empresa chamada “Me Liga Produções e Evento.
Um dos cheques assinado por Val, como pagamento de atividades de campanha de
Flávio, no valor de 5 mil reais, foi endereçado a empresa Alê Soluções e
Eventos LTDA, de propriedade de Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira. Esta
mesma foi assessora de Flávio na ALERJ e exercia durante a última campanha
eleitoral, o cargo de primeira tesoureira do PSL no Estado.
Supostamente, a investigação de funcionários “laranjas” no gabinete de
Flávio indicam que houve um esquema de triangulação financeira, onde a
tesoureira do PSL, que deveria ser responsável pelas finanças do partido,
também recebia dinheiro de pagamento de atividades de campanha de Flávio, em
associação com as milícias e o endereço onde esses grupos atuam, também é o
mesmo endereço onde essas funcionárias moram, que interessante coincidência!
Tal pai,
tal filho. O atual presidente em 2008, época em que era deputado federal,
chegou a defender a atuação desses grupos criminosos. "Existe miliciano
que não tem nada a ver com 'gatonet' e venda de gás. Como ele ganha 850 reais
por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua
própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade", afirmou. Em
outra ocasião, naquele mesmo ano, o capitão da reserva foi ainda mais direto:
“Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a
disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria
apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas".
As
investigações devem continuar, porém, não devem ficar somente em Flávio
Bolsonaro, mas também no pai, afinal é ele que organizar os planos políticos da
família. Onde havia uma proposta política contra a corrupção se tornou uma
plantação de laranjas e onde havia defesa contra o crime organizado se tornou
uma parceria das milícias e pior, pessoas inocentes morreram e agora sabemos
uma parte da verdade, afinal ainda tem muita coisa para descobrir. Várias
pontas ainda estão soltas e se fôssemos revelar todas elas, não haveria espaço
no blog para citá-las. Vamos com calma que ainda tem mais!
Por: Carlos
Fonte: El País/Esquerda online
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